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Paisagismo e Jardinagem

Como construir um jardim sustentável – Parte II

7. Utilizar as plantas de modo a gerar energia através das suas atividades biológicas, nunca ocasionando gastos desnecessários.

O design não deve ser um impedimento para que as plantas que agrupamos cumpram igualmente uma função reguladora na disparidade do clima urbano. A radiação solar, a convecção térmica e a evaporação podem ser controladas eficientemente pelos projetos paisagísticos.

8. Explorar os espaços externos de maneira que reflitam melhor nossa capacidade interior.

O atributo de estudar nosso mundo interior auxilia a conhecer-nos melhor, podendo assim construir um ambiente que tenha sentido. Conhecer-se intimamente ajuda na escolha daquilo que realmente nos fará bem. As redondezas da nossa existência, o âmbito onde atuamos, devem estar sintonizados com a nossa consciência.

9. Equilibrar o gramado com o relvado.

Considerando que um gramado consome, em média e dependendo do clima, 6 litros de água diários por metro quadrado, é indicado o uso de herbáceas (forrações) que têm a capacidade de captar água das camadas superficiais e retê-la por mais tempo. A utilização de grama em locais sombreados é inadequada.

10. Expressar o luxo da paisagem por intermédio do bom gosto e de bom censo e não da opulência exposta futilmente.

A natureza não está atrelada a grifes. O verdadeiro luxo é a manifestação de aperfeiçoar nosso modo de contemplar, aliando o prazer ao sossego necessário para uma vida feliz e aprazível. Acreditar que o melhor jardim é aquele que nos leva a um estado de tranquilidade e autoconfiança, capacitando-nos na escolha daquilo que é bom para nós, sem preocupar-nos exageradamente com a opinião alheia.

11. Colocar os elementos paisagísticos nos locais corretos.

Há sempre uma ordem, mesmo que imperceptível, na paisagem bem estruturada. Existe um alto nível hierárquico entre os vegetais, o qual deve ser respeitado. Há uma ancestralidade e uma hierarquia que agrupa famílias constituídas por espécies, apresentando entre si semelhanças significativas. A beleza também deve ser considerada e compreendida como elemento importante, evidenciada a todo momento no processo evolutivo do homem. O belo jardim é constituído por formas proporcionais relacionando-se, desta forma, ao equilibrio como elemento de composição da paisagem.

12. Valer-se do conceito da xerojardinagem que poupa regas, economizando água.

O regime das chuvas, a umidade relativa do ar e a disponibilidade da água vão determinar a escolha das espécies a serem utilizadas. Na caatinga pernambucana, que possui clima tropical semi-árido, com períodos de seca de 8 meses ou mais, é absurdo cultivar plantas de clima equatorial úmido, como no oeste amazônico, onde chove mais de 2.500 mm anuais. O equilíbrio entre uma boa drenagem e um solo com retenção de água ajustado às necessidades do jardim favorece o sucesso do conjunto florístico e diminui as custas de irrigação e manejo.

13. Usar melhor espécies, principalmente das famílias das compostas que, naturalmente, formam barreiras contra pragas e doenças

As chamadas plantas defensivas (poejo, camomila, tagetes dentre outras)
frustram o ataque de pragas e doenças. Os óleos essenciais afugentam naturalmente insetos e fungos, sem contaminar o meio ambiente. Um canteiro com alho-social (Tulbaghia violácea), por exemplo, mantem as cobras longe.

14. Organizar os espaços externos, tornando-os convidativos

Um espaço externo precisa ser observado como uma oportunidade de transformá-lo na extensão da casa propriamente dita. Ambientá-lo, gerando um recanto escondido e romântico, reservar uma área atrativa para sociabilizar grupos maiores e, se ainda há amplitude, acomodar ambientes que seduzam a ponto de nos fazer sentir tão bem lá fora como na tradicional e costumeira sala da casa.

15. Incluir, no projeto, espelhos d’água, pela função que desempenham possibilitando habitat aos sapos, rãs, lebistes e piabas, que controlam larvas e insetos.

Sempre localizados em baixadas, para lograr aparência natural, as lagoas e espelhos d’água são de fácil manutenção quando bem projetados e construídos. A presença de uma fauna aquática exige a existência de uma flora brejosa, composta por plantas que exercem importante função biológica na água, purificando-a e eliminando substancias tóxicas, formadas por queda de poeiras. Flora e fauna vivem em simbiose. A primeira produz nitrogênio, depurando o ambiente. Os peixes e os outros anfíbios fornecem adubo através de suas fezes.

16. Só há um caminho que nos conduz em direção a uma existência salutar, e ele é arborizado.

Parece apenas uma incorreção de linguagem permitida na poesia. Entretanto, não é licença poética. Uma única árvore é capaz de abastecer de ar puro três adultos e uma criança, sequestrando carbono, reduzindo a poluição proveniente dos gases emitidos por veículos e prendendo partículas de fuligem. Esse caminho que cito, imaginando que seja uma grande avenida com permanente tráfego de veículos, se arborizado, fixaria a cada quilometro 25 toneladas de poeira e liberaria de 2 a 5 toneladas de oxigênio por ano.

17. Abusar das árvores nativas da região.

Aliás, não seria uso imoderado, algo errado, plantar-se quase exclusivamente espécies que espontaneamente habitam uma região. Vantajosamente, as autóctones não precisam de adubos especiais, raramente ficam a mercê de pragas e as formigas às respeitam. Integradas ao nosso clima e solo, florescem sem manejo algum, pedindo só alguma poda de formação. Cabe aqui uma ressalva importante: árvore nativa regional não é apenas brasileira e sim aquela que, fazendo parte de uma formação florestal determinada, desenvolve-se facilmente naquele território. Não é lógico imaginar que uma essência lenhosa da floresta amazônica possa crescer da mesma forma nos campos de Rio Grande do Sul.

Continua…

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6 Comments

  1. Perfeito. Adorei! Como sempre, sensatez e sabedoria.

  2. Xara, no contesto geral muito bom, nem todos os paisagistas visam as colocações que vc deixou neste,tenho encontrado,palmeira leque em condominio recem inalgurado plantadas com 15cm de fundura enfim, escoradas em bambú,grama em bosque embaixo de amoreira,jaboticabeira jasmim manga,primavera etc…,e projeto de paisagista que foram considerados junto com vc os 10 maiores pela editora europa.parabens por ser um grande paisagista,voltado para obem estar e não unicamente pelo $

    • Obrigado, Raul,

      Sei dos erros que muitos profissionais cometem. Eu mesmo errei algumas vezes nos meus projetos.

      Espero que possa colaborar sempre para que meus colegas acertem melhor.

      Abraços verdes!

  3. COMO SEMPRE MESTRE TUDO QUE VEM DE TI É MARAVILHOSO, NOS FAZ SONHAR COM UM MUNDO MELHOR, MAIS JUSTO ENTRE TODOS OS SERES VIVOS DESSE PLANETA, NOS ENSINA A SER PROFISSIONAIS
    COM CONSCIÊNCIA CRITICA, SEM MODISMO , NOS ENSINA A ACREDITAR EM NÓS MESMOS QUANDO DIZ: FAÇA UM JARDIM QUE ESTÁ NA SUA ALMA, DE DENTRO PARA FORA, NÃO CÓPIA. E ACHEI MARAVILHOSO QUE DISSE QUE A O JARDIM NÃO É GRIFE E SIM TEM UMA FUNÇÃO MUITO MAIOR PARA OS SERES, O BEM ESTAR,PORTANTO SOU SUA FÃ NUMERO 1.
    PARABÉNS É POUCO PARA UM SER TÃO ESPECIAL COMO O SENHOR. SENDO ASSIM AGRADEÇO A DEUS POR CONHECE~LO . ABRAÇOS

    • Bom dia Cássia,

      Suas palavras lindas são combustível para continuar lutando por um paisagismo correto.
      Conte comigo!

      Abraços

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