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Paisagismo e Jardinagem

O Jardim Japonês através dos séculos

Ryoan-ji

Herdados da China os jardins são introduzidos no arquipélago japonês, especialmente na ilha de Honshu, onde fica a atual capital Tóquio, mas só começam a se tornar populares na antiga capital Heian-kyõ (Kyoto) onde são projetados seguindo a tradição xintoísta, cujos preceitos religiosos e espirituais estão enraizados nos séculos anteriores a era cristã. Inicialmente se inspiraram na paisagem natural, reproduzindo montanhas e rios com pedras e lagos, sempre acompanhados de cascatas e peixes coloridos. Com a introdução do budismo no século VI os jardins começam a fazer parte do cotidiano das pessoas, tanto nos palácios como nos templos e nas casas mais simples, conservando sempre as características místicas vinculadas com a natureza. Passam os anos e no século XIII um grupo de monges chineses implantaram uma nova forma de budismo, conhecido como “Zen”que poderíamos traduzir como “meditação”. Este estilo prescinde da água e quase que completamente de plantas, resumindo-se às pedras, musgos e seixos. O mais famoso deles é o Ryoan-ji, um espaço destinado a meditação, de líneas refinadas, concebido pelo Mestre Soami (1472 – 1525) pintor, poeta e jardineiro. A serviço do shogun Ashikaga Yoshimasa, ele construiu também o Daisei-in, reprodução em miniatura de uma paisagem bucólica, e o jardim do Pavilhão de Prata (Ginkaku-ji). Um predecessor dele, Muso Soseki (1275 – 1351) monge budista, poeta, calígrafo e designer de jardins, deixou sua marca nos jardins de Tenryu-ji e Koke-dera em Kyoto, hoje Patrimônios Mundiais da UNESCO.

Jardins do templo budista de Tofuku-ji, em Kyoto

A arte da paisagem construída atravessa os tempos de modo inalterável, junto com a música, a cerâmica, a pintura clássica representada pelo sumi-ê e o ukiyo-e, a caligrafia, o teatro kabuki, a ikebana, o origami, a cerimônia do chá, a culinária e o modo de vestir com os longos kimonos. Sempre respeitando profundamente as tradições de uma sociedade conservadora. Isto é reafirmado em 1871 quando uma lei foi promulgada para preservar antigos jardins privados, como o Kenroku-em e o Murin-um, transformando-os em parques públicos.

Museu de Arte Contemporânea de Naoshima – projeto de Tadao Ando

Mas as transformações culturais acontecem de modo inexorável no século XX, provocadas pelo expansionismo territorial e as duas Grandes Guerras mundiais. O Japão deixa de ser um país agrário e feudal, isolado do Ocidente, para paulatinamente transformar-se em uma potência industrial e capitalista no cenário internacional. Os hábitos da população mudam influenciados pelo Ocidente. No entanto, sem perder a essência que sempre caracterizou o design nipônico e a arquitetura da paisagem, sentem a necessidade de adequar-se às circunstâncias. O notável paisagista Mirei Shigemori (1896–1975) vislumbrou um novo jardim, moderno, simples e impecável, mas conservando as virtudes que os jardins antigos ofereciam para uma meditação contemplativa. A inspiração sofre, sem dúvida, interferências das tendências americanas e européias, sem por isso perder o gosto refinado, que caracteriza um design apoiado na sustentabilidade e na interculturalidade. São projetos dele, os jardins do templo budista de Tofuku-ji, em Kyoto, o Jardim das Pedras do castelo de Kishiwada e o Sumiyoshi Park, em Osaka. Neles, Shigemori, rompe com o naturalismo e retoma a abstração dos jardins secos de maneira inovadora.

Jardins do Solo Sagrado em São Paulo – projeto de Tsutomu Kasai

Outros paisagistas importantes do século XX:

  • Yoshikuni Araki ( 1921-1997), realizou jardins na Tailândia, Coréia do Sul, EUA, Áustria, Alemanha, Cuba, além de outras grandes obras no Japão;
  • Koichi Kawana (1930 – 1990) Lecionou na Universidade da Califórnia e projetou vários parques públicos nos Estados Unidos;
  • Nagao Sakurai (1896 – 1973) vários jardins notáveis nos Estados Unidos;
  • Takeo Shiota (1881 – 1943) vários projetos nos Estados Unidos, inclusive os jardins da cobertura do antigo Astor Hotel, que funcionou até 1967, na Times Square, Manhattan;
  • Takeo Uesugi (1940 – ) autor, entre outros, do James Irvine Garden, em Los Angeles;
  • Isamu Noguchi (1904 – 1988), escultor, designer de mobiliário e paisagista. Realizou jardins na França, USA, Honolulu, e outros no Japão, como o Moerenuma Park, em Sapporo.

Nas últimas décadas surgiram outros expoentes, como Tadao Ando, um arquiteto autodidata que enfatizando os vazios, representando a beleza com simplicidade; isto valeu a ele o Prémio Pritzker em 1995 pela sua obra, onde os espaços verdes tem uma importância fundamental como complemento das edificações. Na atualidade o Japão possui profissionais de destaque, como: Hoichi Kurisu, Hirofumi Suga, Hidetoshi e Shunsuke Furuie, Yoshiharu Shimura, Kenzo Yamakoshi, Koshi Ohashi, Hiko Mitani, Norikazu Kondo, Takeshi Matsuo, Takeshi Mita, Gen Kumagai, Kouhei Nobuhara e Tsutomu Kasai, conhecido aqui no Brasil por ter projetado os jardins do Solo Sagrado em São Paulo, entre outros. Eles seguem um estilo próprio e, apesar das relações intensas com os Estados Unidos, não assimilaram o American Way, mas se reinventaram, copiando fórmulas americanas porém fieis a suas tradições milenares. O Japão do karaokê, da dança altamente energética que é o yosakoi, das histórias em quadrinhos conhecidas como mangá e dos seriados e filmes tokusatsu de super-heróis, é bem diferente daquele de 60 anos atrás, no período de pós-guerra. Mas continua cultivando uma magia peculiar.

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23 Comments

  1. Parabéns pela sua sabedoria, simplicidade a amor! Fico muito feliz e grata pela oportunidade de aprender com voce!! Muito obrigada!!

    • Obrigado pela delicada mensagem, Márcia!!!

  2. Boa Tarde!

    Usaria as seguintes plantas:

    azaléias,além de serem originária do Japão, é um arbusto totalmente florido e harmoniza com os outros elementos do jardim japonês como pedras água etc, fica ótimo compondo caminhos.

    pinheiro negro como forma de bonsai, por fazer parte da cultura japonesa,se significativo,e ser símbolo da longevidade.

    bambu, por representar habilidade.

    buxinho com podas com alturas diferentes, em composição com pedras fica lindo

    hortênsias, pela forma das flores globosas,e verde das folhas.

    cerejeira por suas flores celebrar o nascimento.

  3. Não pode faltar, algum tipo de bambu, servindo como pano de fundo para azaléias, camélias, glicínias, tuias, nandinas e uma cerejeira-do-japão. No mais, suaves ondulações no terreno e, para integrar o conjunto, grama-japonesa (Zoysia) ou areia bem grossa e branquinha.

  4. Entre los elementos más importantes del Jardín Japonés están las plantas, y son diversas. Así tenemos el Acer japonicum y el palmatum, bambúsa vulgaris, prunus anium, azaleas japonicas y pinos (pino negro).
    Estas especies reproducen belleza escénica, creando un patrón que pretende crear tranquilidad en el espectador, este concepto se relaciona con el término ikedori que significa “capturar lo vivo”, de manera que el espectador sea capaz de captar la esencia de los elementos vivos de la composición de una manera armónica con el paisaje circundante (shakkei) o escena prestada.

  5. Um jardim japonês reflete a vida, o tempo, eu diria até o espírito japonês. Calma, tranquilidade, sucessão das estações, renovação da natureza. São criados para contemplação, quase como um ato de meditar. Então temos como tradicional a Sakura, árvore da felicidade que com seu florescer representa o começo de mais um ciclo. O Momiji já mostra a como o tempo passa, deixando suas folhas vermelhas no chão. Kuromatsu já é a idéia de força, como um guerreiro, o lado masculino. O Bambu nos mostra que na vida podemos superar os obstáculos, ele é flexível e se adapta ao tempo. Por último temos o Musgo, no chão. Dá uma sensação incrível de aconchego, conforto e torna os jardins com aparência de mais velhos. Amo jardins japoneses. Quem sabe um dia consigo projetar o meu.

  6. 1- Sakura ou Cerejeira-japonesa-rosa : É muito tradicional, representa o início de um ciclo de vida, a árvore da felicidade.
    2- Momiji ou Acer : É uma árvore que representa a passagem do tempo, no outono suas folhas vermelhas caem cobrindo o chão. Para eles, a queda das folhas no outono é tão importante quanto o florescimento na primavera.
    3- Pinheiro Negro ou Kuromatsu : É a figura masculina, patriarcal, considerado um guerreiro e o símbolo da longevidade.
    4- Bambu ( take ) :
    Representa a habilidade para superar as dificuldades
    5- Musgo : São usados para dar a sensação de conforto e nos jardins mais jovens, criar a ilusão de que são mais antigos.

  7. bambu mossô
    azaleia
    kaizuka
    bambu-da-sorte
    bonsai

    • Escolher as espécies adequadas, fazer uma composição com lanternas japonesas, tooros, queda d’água ou lago e pedras criam um espacinho oriental exclusivo para suas horas de relaxamento.

  8. Indico o bambu, que evoca flexibilidade.
    Espada de São Jorge contra o mau olhado.
    Pimenteiras que espantam maus fluidos e é uma linda planta.
    Kalanchoê ou Flor-da-fortuna e da felicidade, que evoca o que o próprio nome diz, também são lindas e podem ter muitas cores.
    Lírio da paz, linda planta que conforme o Feng Shui, oferece proteção e harmonia ao ambiente.

  9. Um jardim Japonês é carregado de simbolismo e semiótica. As plantas que melhor se adequam a este tipo de jardim são as que atendem a estes aspectos e que juntas, apresentam um conjunto natural, simples e visualmente maduro.
    Indico o Pinheiro Negro que é considerado a “Escada dos Deuses”, por ondes estes descem para chegar ao chão.
    A Cerejeira Sakura, que simboliza a vida humana, breve e frágil, mas imensamente bela!
    O Bambu, pois representa um modelo ideal de características que podem ser aplicadas á vida humana, como a força interior, o estar sempre pronto e flexível diante de transformações da vida, o esvaziar-se superando as adversidades e o crescer sempre sem deixar de ser simples.
    Ainda, representando a quietude, a maturidade a eternidade, outras arbóreas como, o Salgueiro-chorão e a Kaizuka por suas formas caprichosamente esculpidas e por serem facilmente encontradas no Brasil.

  10. As 5 espécies que melhor adequam a um jardim japonês na minha opinião são: Bambus, cerejeiras, azaléias, umê e hortências. Acredito que essas espécies representam bem toda a tradição, relaxamento e beleza, um culto a arte que nos encanta os olhos e a alma.

  11. Um jardim japonês deve ter flor de lótus (que simboliza a pureza espiritual) flores, frutas e folhagens vermelhas, como a azaleia, a romã e a nandina, pois o vermelho remete ao outono (renovação das folhas e dos sentimentos), além do bambu, que simboliza a flexibilidade.

  12. Um jardim japones deve ter a primicia da serenidade..muitos pontos de água, sons de água, quedas, azaléas, bambuzas, buxinhos, sinos do tempo, local assombreado, muitas rasteiras coloridas.
    se possível, dependendo do espaço… pisos formando caminhos em pedra aonde caminha-se para contemplação!!

  13. As espécies de plantas que melhor se adequam a um Jardim estilo Japonês…as mais usadas em meus projetos levando em critério as especies disponíveis em minha cidade,as preferencias da parte dos meus clientes…são os pinheiros(Kaisuca,Tuia,Podocarpos)Arvores cerejeira,Romã,magnolia, bambus, azaleia, eugênia,tendo sempre o verde a cor predominante sendo combinado com pequenos toques de cores que arvores ou arbustos lhes conferem.

  14. Um jardim japonês nos remete à tranquilidade, meditação e autoconhecimento.
    Algumas das espécies que na minha opinião devem compor um jardim japonês são:
    Bambu – simboliza resiliência, flexibilidade (que temos que ter em muitos momentos de nossas vidas)
    Flor de cerejeira (Sakura) – simboliza a felicidade, delicadeza e abertura de um ciclo de vida
    Ardísia – simboliza a fertilidade
    Pitósporo – simboliza resistência e a figura masculina
    Acer – simboliza a renovação, a passagem do tempo, fechando o ciclo que se fecha em oposição a cerejeira.

  15. Um jardim japonês é projetado para reinar a paz e a harmonia e para isso podem ser usadas algumas plantas como magnólias para que as pessoas sejam bem vindas, nandinas para afastar a proliferação de bactérias e os maus espíritos, um pinus para representar o pai, a azaléia para representar a mãe e o bambu para representar os filhos, entre outras.

  16. Magnólia – utilizadas para recepcionar os visitantes e afastar os maus espíritos.
    Pinheiro – representa o pai
    Azaleia – simboliza a mãe
    Touceiras de bambu – representa o filho
    Sakura – representa a felicidade

  17. espécies com sentido no jardim japones
    bambu – crescimento sem curvas, carater reto.Representa também o filho, quando em conjunto com azaleias (mãe). Raphis exelsa – parentes proximos e amigos da familia. A Kaizuka como o mestre. Nandinas – tirar os males do caminho e evitar proliferação de bactérias

  18. Adorei o texto. Sendo o jardim japonês um tipo de jardim oriental, possui algumas regras quanto a posicionamento, utilização de plantas e outros elementos, segundo a tradição. Nem todas as flores são permitidas. No entanto, a observação sazonal é algo que se esperado do jardim. Não sou expert no assunto (sou mais familiarizado com o chinês), mas indicaria a utilização da Acer japonicum, que além de genuinamente japonesa, garante a coloração o ano inteiro e também, a observação das estações do ano no jardim. A Ophiopogon japonicus ou grama preta também não pode faltar, para dar acabamento próximo a pedras ou forração. O cedro japonês Cryptomeria japonica, muitas vezes cultivadas em bonsais, mas no caso do jardim, plantada em um ponto de visão de destaque, é uma escultura natural. O Cyperus papyrus, ou papiros, apesar de não ter origem no Japão, mas creio ter tudo a ver com o beiras de lago ou espelho d’água, elemento que deve estar presente. Não sei se o papirus seria uma planta permitida no jardim japonês tradicional, mas acho que ficaria bem charmoso. Claro que não poderia esquecer da cerejeira ou Sakura – Prunus serrulata – que apesar daquela questão controversa das flores no jardim japonês, vem a ser um símbolo do Japão. Ela harmoniza com suas cores, traz um leve aroma e anuncia a primavera (observando aquela máxima sobre a observação das estações do ano). E ainda, não poderia faltar o bambu. No caso eu penso no Phyllostachys pubescens que é o mossô e, apesar de ser chinês, traz a beleza e filosofia oriental que o jardim necessita. Bom, espero ter escolhido da maneira correta. Esta é minha contribuição. Abraços.

  19. Esqueci de duas:Em tempo lá vai.A elegante Kaizuka e o dócil Buxinho,que proporciona belas e harmoniosas formas,integrando-se com graça na paisagem.

  20. Penso que em um jardim japonês a presença significativa , forte,imperial e bela de um Pinheiro Negro – Kuromatsu é indispensável.Também considero a presença dos bambus evocando a flexibilidade,que dobra mas não quebra.E por último lembro da amorosa Azaleia,com suas lindíssimas flores,enfeitando o harmônico verde que predomina nesses jardins.

  21. 5 espécies de plantas para Jardim Japonês.
    O Sakura ou cerejeira ornamental-felicidade.
    O Pinheiro Negro (Kuromatsu)-longividade.
    bambu (take)-habilidades para superar dificuldades.
    Sakura – Flor de Cerejeira-nascimento
    O Momiji-Gari ou Acer Vermelho–melancolia e personalidade.

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