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Paisagismo e Jardinagem

Bricolagem: o puro prazer de fazer…

Sinceramente, não imagino qualquer tipo de entretenimento ou de lazer na Roma Antiga, na era Victoriana ou mesmo, recentemente, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, nestas terras tupiniquins. Sei que nesses períodos históricos, muita gente se dava “bem” podendo praticar uma ociosidade crônica, graças à posição social ou a realeza a qual pertenciam. Mas não é deles que estou falando e, sim do pobre proletário que vivia de um salário miúdo e, também, dos camponeses que por serem carentes de urbanidade não tinham a menor idéia sobre passatempos ou descansos.

Até pouco tempo o cidadão comum e o homem do campo trabalhavam de sol a sol, seis dias por semana, deixando o sétimo para “cuidar da vida e da casa” o que, aqui entre nós, não era considerada uma inatividade. Essa coisa do tempo livre surge no momento em que as sociedades revolucionam os processos de industrialização e criam técnicas de manejo mais eficientes para a agropecuária. Observem que, paralelamente, as artes tornam-se populares: a música, o cinema e até a perícia e o bom gosto na gastronomia ficam ao alcance da maioria dos pobres mortais que se conformavam, até esse momento, com apenas danças regionais, teatros mambembes e uma alimentação que não tinha nada de criativa, atendendo apenas as necessidades mais elementais de sobrevivência.

Na década de 1950, a chamada música dos morros conquista todos os seguimentos sociais, mostrando o trabalho de Adoniran Barbosa, Clementina de Jesus, Jamelão e tantos outros que usam essa expressão artística para refletir uma sociedade, que aprendeu a sorrir e começa a perceber que tem o direito ao ócio, sendo que essa ociosidade lhes possibilita uma reflexão sobre seu cotidiano.

Mas a inatividade produtiva se transforma numa laboriosidade cuidadosa, nos finais de semana, quando homens e mulheres cuidam do jardim pelo puro prazer de estar fazendo algo que traga como retorno, um sentimento de bem-estar, de conforto anímico, que irá repercutir emocionalmente de maneira altamente positiva.

Diria até que cuidar de plantas nos devolve um pouco a autoconfiança perdida, e a necessidade de criar, de cuidar de um organismo vivo que irá retribuir com flores e com frutos nossa dedicação. Um jardineiro, diligente e esmerado, sente-se poderoso; transformando a terra nua em algo bucólico e cheio de graça.

Pois é, aquele mesmo homem que trabalhava até a exaustão no século passado, pode-se dar o luxo, hoje, de continuar trabalhando nos dias de folga, não para cuidar apenas de sua subsistência, mas para inventar alegrias, para promover ilusões e para preencher cada momento com um produto criado por ele mesmo, com suas próprias mãos. Pelo puro prazer de fazer.

Responder Raul Cânovas Cancelar resposta

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2 Comments

  1. Grande artigo, parabéns pelo blog!

    • Ah, Esmeralda, muito obrigado pelo elogio!

      Abraços

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