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Paisagismo e Jardinagem

Hum? Paisagismo ou jardinagem?

Shanghai Houtan Park, projeto do paisagista Kongjian Yu

Shanghai Houtan Park, projeto do paisagista Kongjian Yu

Ouço frequentemente frases do tipo: “No domingo fiz um paisagismo na minha casa…” ou “Que paisagismo legal você fez nesse vaso!”

Também me deparo com imagens no Facebook como esta:

Me surpreendo estarrecido vendo coisas assim:

E testemunho improbidades com a natureza como esta:

Será que estamos assistindo uma onda de pessoas confusas que não entendem a diferença entre o trabalho criativo e técnico de um paisagista de verdade com as boas (ou más) intenções de um pretenso jardineiro? Antes de continuar com meu desabafo preciso esclarecer que respeito sinceramente a labuta dos jardineiros (meu bisavô Cristóbal foi um deles). Os autênticos cuidam com capricho para que tudo corra de modo esmerado com os canteiros floridos, com o gramado impecável, com a nutrição das plantas, o controle de insetos e de outros fatores que possam favorecer ou malograr a estética do jardim. Alguns deles foram célebres (meu bisavô Cristóbal, não), como Claude Mollet (1564 – 1649) “premier jardinier” do reis franceses Henrique IV, Luis XIII e Luis XIV ou como Mark Lane, chefe atual dos jardineiros do Palácio de Buckingham.

Projeto de Helen Dillon, em Dublin, Irlanda

Projeto de Helen Dillon, em Dublin, Irlanda

Nada impede que se façam serviços de jardinaria com, inclusive, toques de imaginação e inventividade. Isto não é uma atividade restrita a uma panelinha com algum tipo de diploma, mas é algo que deve ser diferenciado de um passatempo amador ou mesmo das ingenuidades que atentam, não apenas com o bom gosto, mas fundamentalmente com uma profissão que objetiva o bem estar das pessoas, lhes proporcionando áreas bucólicas onde árvores e outras plantas forneçam ar puro.

Paisagismo de Gil Fialho, São Paulo

Paisagismo de Gil Fialho, São Paulo

Admito que o paisagismo tenha adquirido um certo ar glamourizado e que por esse motivo atraia tanta gente, porém em nada diminui o oficio do jardineiro, pelo contrário, são atividades inseparáveis e inerentes. Mas – como diria meu bisavô Cristóbal – “una cosa es una cosa y otra cosa es otra cosa”, que traduzindo do espanhol andaluz que ele falava para nosso bom português fica assim: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.

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22 Comments

  1. Estou sempre vendo faíscas e acusações de ambos os lados… Em minha primeira aula de Paisagismo a professora fez a clássica pergunta: o que é paisagem? Paisagem não se limita à disposição dos elementos, tem contexto, conjunto, constrói o espaço. Sinto que o resultado só pode ser positivo se há o diálogo entre o paisagista e o jardinista, que domina os segredos da manutenção e a linguagem do solo e das plantas… Sou muito grata por estar numa profissão onde posso aprender todos os dias com mestres que tão generosos distribuem seu conhecimento… Nem tudo se aprende na prancheta, nem do dia para a noite…

    • Oi Isabel,

      Adorei seu comentário. Meus parabéns!!!

      Abraços

  2. Eu particularmente sou suspeito, me arrepia me chamarem de Paisagista!Até porque foi através da Arte que me atrai pelos jardins, das telas , da história dos grandes Líderes de diversas nacionalidade , sentiam necessidade dos terraços, das áreas criadas pelos seus Jardineiros onde a Utopia e a imaginação foram se adequando as suas culturas e religiosidade. Então na cidade vindo mais depois desse legado vieram as cidades e com eles o urbanismo e só então nosso ai o PAISAGISMO! Por isso perdo-Me meu digníssimo Mestre Raul, até hoje no auge dos meus 40 anos e 20 de labuta e luta pelo meu espaço defende veemente o JARDINISMO, A JARDINARIA E ARTE DE JARDINS E, onde bolhas sem sensibilidade e Arquitetos mau informada acreditam que sua profissão é exclusiva e a mãe ou pai de algo ? Não não é e nem nunca ser a!

    • Pois é meu caro Júlio, você tem toda razão, a jardinagem é uma tarefa sublime e plena de recompensas espirituais. Continue sua caminhada semeando flores!

      Abraços

  3. Raul e amigos,tenho um desabafo também! Digo que nasci paisagista/jardinista, fiz meu primeiro jardim com 16 anos(com pedrinhas e bromelias,kkk). Os anos passaram, fiz uns três cursos e nenhuma faculdade. Hoje com 36 anos participei da minha primeira Casa Cor e a burocracia exigiu a assinatura do projeto, pedi emprestado a responsabilidade técnica para o Meu jardim. É aí que entra a questão: me mantenho autodidata ou busco homologar minha profissão? Quando assisti a palestra do Gil Fialho no CONAPA me aliviei, puxa o cara mega talentoso é autodidata! Mas não! Preciso do número, farei a graduação Arquitetura e Urbanismo com 20minutos de paisagismo,satiricamente.
    Não temos cultura, hoje síndicos são paisagistas, agricultores são jardineiros e arquitetos são topiários(nem todos). Não desmerecendo, mas essência e sensibilidade poucos têm!

    • Adorei o comentário, Geórgia. Tampouco cursei uma faculdade
      assim como Tadao Ando, um arquiteto autodidata que enfatizando os vazios representa a beleza com simplicidade; isto lhe valeu o Prémio Pritzker em 1995. No paisagismo os exemplos são muitos: Gilberto Elkis, Luiz Carlos Orsini,Toni Backes e tantos outros na atualidade, além de outros de épocas passadas, como: Lota de Macedo Soares, Mina Klabin Warchavchik, Waldemar Cordeiro e os internacionalmente famosos: Isamu Noguchi, Jens Jensen e Russell Page, já falecidos.

      Mas não importa, Geórgia, o que realmente vale é sua vocação!

      Abraços

      • Verdade Raul! Até fui no dicionário pra ver o teor desta linda palavra: Vocação é uma competência que estimula as pessoas para a prática de atividades que estão associadas aos seus desejos de seguir determinado caminho.

        Um caminho margeado de flores, visitado por abelhas e percorrido com a certeza de estar na direção certa!

  4. Realmente é preciso diferenciar paisagistas de jardineiros e do “outra coisa”. Outra coisa, geralmente gosta de atuar nas duas áreas, sem o menor conhecimento e munidos de ferramentas de corte, partem para o ataque, entitulados tanto como paisagistas como jardineiros, e o resultado é sempre um desastre na paisagem. O pior é que tem quem pague e admire o trabalho do “outra coisa”.

    • Todos nascemos ignorantes,Laila, mas teimar no desconhecimento do que é correto é um indício de que estamos na frente de um bronco presunçoso.

      Abraços

  5. Oi Raul….as vezes me pergunto se estou fazendo paisagismo ou jardinagem….pois muitas pessoas acham que pedrisco Branco com buxinhos é bonito. Muitas vezes o próprio cliente constrói seu jardim e devido aos valores um projeto paisagístico bem elaborado virá um simples jardim e não uma paisagem como eu gostaria. ..Confuso né.

    • Lucila…como diz nosso mestre uma coisa é uma coisa…..paisagismo vai muito além da jardinagem…..paisagista tem visoes…que anteriormente vieram da jardinagem…acabei de fazer na UMAPAZ..com doutoures em paisagismo o curso…no qual te citam muito Raul..vc é uma grande referencia pra eles!!!!

      • Oh! Inês, agradeço o carinho e espero que essas citações não sejam exageradas.

        Abraço grande!

    • Oi Lucília,

      Nada impede que seu próprio cliente decida montar um jardim, porém devemos adverti-lo de que, por falta de conhecimentos técnicos – e não de bom gosto – irá errar na escolha da planta ideal, dos insumos que usará durante o plantio e, fundamentalmente, no manuseio de tudo isto.

      Esse mesmo cliente poderá optar, em lugar de consultar um médico, por ir na farmácia e comprar um remédio qualquer que lhe pareça interessante por causa da embalagem.

      Coisas da vida…

      Abraços

  6. A Palavra Paisagismo está banalizada,qualquer serviço onde se coloca algumas plantas ornamentais, chamam de paisagismo. Isso acaba desvalorizando os profissionais que fazem e pensam o paisagismo verdadeiramente.

  7. Vdd. Uma coisa é uma coisa e outra é outra coisa. Bons paisagistas e bons jardineiros se completam e respeitam seus limites. Abaixo as bizarrices.

  8. Prof.Raul, o assunto é desafiante e as vezes até polêmico. O conhecimento é muito importante mas ¨Diploma não encurta orelha¨.A sensibilidade aliada ao conhecimento e a criatividade tem gerado trabalhos brilhantes.Amar o que se faz tem muita diferença mas não basta.O mais importante que estamos assistindo nestes tempos é a preocupação com o meio ambiente, com a beleza dos espaços com a sustentabilidade… esperamos que mais profissionais especializados ou não continuem estimulando novos adeptos.Um abraço

    • É verdade, Iara,

      Opino igual a você, por isso afirmo: “Isto não é uma atividade restrita a uma panelinha com algum tipo de diploma”.

      Em tempo o jardim de Dublin foi projetado por Helen Dillon, e o de São Paulo por Gil Fialho. Nenhum dos dois é arquiteto.

      Abraços

  9. Ótimo desabafo. Frequentemente me assusto também!

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