O paisagista pode adquirir conhecimentos a partir de experiências sensoriais?
Sim, segundo alguns pensadores contemporâneos, como Nicolas Bourriaud, que também é curador e crítico de arte, o criativo do século XIX traça suas linhas em várias direções, explorando as múltiplas dimensões do presente. Isto explica os muitos exemplos de paisagistas que não cursaram arquitetura, adquirindo de forma empírica seus conhecimentos, como: Paul Villon, Lota de Macedo Soares, Mina Klabin Warchavchik, Waldemar Cordeiro, Otávio Augusto Teixeira Mendes e Roberto Burle Marx que foram, aqui no Brasil, precursores na arte de desenhar jardins. Atualmente alguns dos famosos designers da paisagem não possuem formação em arquitetura: Paul Bangay, Helen Dillon, Mary Reynolds, Kathryn Gustafson e muitos outros seguiram os passos de célebres paisagistas que tampouco eram formados: Jean-Pierre Barillet-Deschamps, Jean-Charles-Adolphe Alphand, Gertrude Jekyll e mais recentemente: Isamu Noguchi, Russell Page, Jens Jensen e Lawrence Halprin, apenas para citar alguns.
Por aqui os exemplos são muitos. Alguns cursaram outras faculdades outros são autodidatas, mas, inegavelmente, possuem o prestigio necessário que abaliza o trabalho deles: Gilberto Elkis, Luiz Carlos Orsini, Toni e Paulo Backes, Gustaaf Winters, Irene Ruchti, Renata Tilli, Rodolfo Geiser, Gil Fialho, Maria João D’Orey, João Jadão, Eliana Azevedo, Ricardo Pessuto e muitos, muitos outros reconhecidos como exemplos de excelência. A lista seria interminável, por isso peço desculpas por não mencionar os tantos que criam jardins baseados em conhecimentos não adquiridos nas faculdades de arquitetura.
Portanto vamos continuar arquitetando paisagens. É um direito que temos já que arquitetar é sinônimo de idealizar, fantasiar, inventar e bolar e não uma prerrogativa de quem frequentou uma determinada escola. Isto não invalida o fato de precisar estudar incansavelmente. Da mesma maneira que o faziam: Le Corbusier, Frank Lloyd Wright, Walter Gropius Charles Eames, nosso saudoso – e também paisagista – Zanine Caldas e, mais recentemente, Tadao Ando, ganhador do Prêmio Pritzker em 1995, que não foram formados em arquitetura por uma faculdade regular e, entretanto, arquitetaram edificações e mobiliário de maneira singular.
Raul Cânovas nasceu em 1945. Argentino, paisagista, escritor, professor e palestrante. Com 50 anos de experiência no mercado de paisagismo, Cânovas é um profissional experiente e competente na arte de impactar, tocar, cativar e despertar sentimentos nos mais diversos públicos.
Bravo \O/
Que bom que gostou, Cláudia!
Caro Raul, acredito veemente e fico maravilhada com esses tantos grandes nomes e com tamanho talento nato. Mas em contrapartida gostaria de ressaltar aqueles que precisam se esforçar um pouco mais, estudar, vivenciar e adquirir uma experiência para poder de fato ser reconhecido como paisagista. Sinto uma grande repelência por parte daqueles que estão no mercado em promover oportunidades e permitir aos novos que estão estudando e buscando seu lugar e vejo tamanha frustração e decepção por tantas ausências de respostas ou ‘nãos’. Gostaria de ler algo do senhor a respeito desta abordagem. Um abraço de quem muito te admira.
Querida Camila,
No Brasil, a falta de regulamentação da atividade de paisagismo faz com que pessoas das mais diversas áreas se aventurem nesse caminho.
É por esse motivo que é necessária uma constante capacitação e atualização desse profissional para compreender que, além da arte de saber criar belos jardins, temos uma responsabilidade muito maior no exercício dessa nobre profissão.
Portanto, embora afirme que o paisagismo deve estar aberto para todos aqueles que se sintam atraídos pela profissão, deverá sempre se levar em conta a Responsabilidade Civil e Criminal de todos aqueles que planejem áreas de paisagismo, cabendo a eles a incumbência de assegurar o conforto de um jardim e o bem-estar que ele devera oferecer.
Abraços