Medos
São tantas as sensações de medo! Entretanto, o medo de plantas é um temor que algumas pessoas padecem
Sim, a botanofobia gera ansiedade, receio de alergias, consumo de oxigênio exagerado de qualquer verdinho ou até as sintonias que elas podem ter com maus espíritos. Isto se origina a partir de experiências não muito alegres da infância e produzem um mal-estar, mesmo quando aparecem em imagens fotográficas ou no cinema e televisão. Árvores, ou mesmo uma simples flor, ocasionam pavores inexplicáveis que podem ser tratados com terapias adequadas, mostrando que não há plantas agressivas ou maldosas, e sim um mundo vegetal a nossa disposição, para ajudar-nos a viver melhor.
Claro que o medo pode ser um aliado para nossa sobrevivência. Ontem, cruzei com o filósofo Mario Sergio Cortella, no Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, esperando o embarque que iria me trazer de volta a São Paulo e lhe confessei meus receios de errar o portão de embarque e acabar, por culpa da minha distração, em algum outro lugar deste planeta. O professor Cortella, que foi secretario municipal de Educação de São Paulo e apresentador do delicioso programa “Diálogos Impertinentes”, na TV PUC, me disse que o medo é salutar, lembrando-me que Ulisses, o personagem da Ilíada e da Odisseia, se destacou principalmente por sua prudência e astúcia, voltando à casa incólume e com saúde, enquanto que o corajoso Aquiles morreu, ferido no calcanhar, por uma flecha certeira atirada pelo príncipe Páris, demonstrando, quiçá, um excesso de valentia.
Tirar partido dessas inquietações, que por vezes chegam a nos dar uma descarga de adrenalina, coisa que certamente Ulisses vivenciava, é um modo de andar pela vida de forma prudente e segura sem, claro, assustar-nos por motivos disparatados, como esse de ter sobressaltos com uma palmeirinha agitada por um vento repentino. A ansiedade surge em alguns casos como um preâmbulo do medo. Tenho notado que as pessoas, quando discutem sobre o jardim comigo durante a fase do projeto, sofrem de certa impaciência, temendo uma futura antipatia com essa ou aquela planta. Lidar com o desconhecido pode ser aterrador para alguns e estimulante para outros, que ficam sempre dispostos a descortinar as janelas do conhecimento.
E este conhecimento, esta forma de abstrair noções sobre algo, não se limita a teorias acadêmicas mas, também, a estar disposto a descobrir, através dos nossos sentidos, as emoções que a paisagem produz. Sei que por vezes a natureza pode intimidar, todavia você há de concordar comigo que ela é verdadeira e franca, jamais usando disfarces.
Não sinta medo dela, preocupe-se, sim, com os artificialismos dissimulados que, muitas vezes, o homem fabrica.
Raul Cânovas nasceu em 1945. Argentino, paisagista, escritor, professor e palestrante. Com 50 anos de experiência no mercado de paisagismo, Cânovas é um profissional experiente e competente na arte de impactar, tocar, cativar e despertar sentimentos nos mais diversos públicos.