O pinheiro e o arbusto espinhento
(Avianus – Poeta latino do séc. IV d.C.)
Leva algum tempo, mas, às vezes, pode-se ouvi-las quando o vento vem na direção certa e traz suas tênues vozes a conversa das plantas, a maneira como falam umas com as outras, clara e tão lentamente, que precisamos ficar longamente parados, para começar a perceber que uma conversa está acontecendo.
Assim, os dois, um pinheiro, alto e gracioso, senhor da colina, e, a seus pés, estendendo-se ao redor, como costuma fazer um arbusto espinhento, estavam ali, há anos e anos, de maneira amigável e pacífica, pois as plantas são, por natureza, afáveis.
Mas, um belo dia, o arbusto começou a receber uma mensagem desagradável do pinheiro, uma sugestão hostil, que fazia suas finas raízes se arrepiarem, pois o pinheiro insinuava que era diferente, dizendo:
– Oh! Veja como sou alto, tão sublime, tão simétrico, procurando as alturas, tão grandioso! O que deve você sentir, tão baixinho e acaçapado, tão esparramado no chão, tão hirto e espinhento, tendo-me como vizinho, constante companheiro, e, permita-me, comparando, há mais belo exemplar do reino vegetal? Deve ser motivo de irritação para você, minha elegância escultural, à sombra da qual você é obrigado a passar cada momento, sem possibilidade de fugir: deve ser insuportável! – E o pinheiro zuniu e suspirou, com falsa simpatia.
Mas o arbusto respondeu, após meditar por algum tempo:
– Não, não é tão ruim assim, pois se eu posso, olhando para o alto ver tua sublime altura, assim, também pode o navegador, à procura de um mastro, ou o carpinteiro, que busca a viga perfeita para um telhado, e já forjara e afiara o machado que virá abater-te e cortar teus lindos galhos um a um, transformando-te em madeira nua. Mas eles me deixarão em paz, pois, para que lhes serviria eu? E nesse dia doloroso, você aprenderá a odiar sua graça e sua altura e desejará ser baixo, nodoso e coberto de espinhos!”
E então, pararam de conversar, e, se as conversas haviam durado bastante tempo, o silêncio foi bem mais extenso, só, ocasionalmente, um suspiro exagerado do pinheiro e, como resposta, o arbusto fingindo não notar… Mas, para saber que já não conversavam mais, você teria que prestar ouvidos durante muito tempo.
Escritora, poliglota, amante da leitura e apaixonada pelo mundo vegetal.