Saci

Gabriel Esquerra, escultor argentino (suspeito de ser basco), vive em Eldorado, na Província de Misiones. Foi-lhe encomendado o trabalho de averiguar a existência de um Saci argentino, já que muitos de seus compatriotas juravam que ele não é exclusividade brasileira.

Eis parte do relato de Gabriel:

“Após uma consulta no Google, pude averiguar que o Saci-Pererê poderia ter relação com o Yasi Yateré que conhecemos por aqui. Como não consegui muitas informações sobre o tema, resolvi fazer uma pesquisa popular.

O primeiro problema foi a pergunta: ‘O que sabes sobre a lenda do Yasi Yaterê?’ As pessoas me olhavam entre assombradas e indignadas por rebaixar o dito cujo à uma personagem de lenda! Então, reformulei a pergunta e o que consegui saber foi o seguinte: fisicamente, ele parece um menino, mas com cara de velho, cabelo avermelhado e comprido, usa chapéu e em uma das mãos, carrega um bastão (ou uma machadinha) de ouro. Aparece na hora da sesta ou a noite e, entre suas brincadeiras de mau gosto, estão: seduzir moçoilas, fazer com que os homens se percam pelas montanhas e atrair as crianças e confundi-las para que não mais achem o caminho de casa. Em alguns casos, o Yasi amarra as crianças nas árvores para castigá-las e, em outros, as cuida e alimenta por dias seguidos (acredito que isso depende do comportamento que as crianças costumam ter em casa ou na escola). Casos de sumiço e reaparecimento de crianças em Misiones acontecem, pelo menos, duas ou três vezes ao ano e, aqui, todos afirmam saber quem é o responsável!

Existe por aqui um pássaro chamado yasí e as crianças são avisadas para que não imitem o canto da ave, senão, o Yasi Yaterê se vingará!

O mecânico Oscar, ao qual entrego meu carro de quando em vez, me assegurou que, quando era pequeno, em seu vilarejo, as mulheres que levavam a roupa no riacho encontravam o Yasi todos os dias. O governo chegou a enviar ao local uma Comissão Investigadora e uma foto publicada pelos jornais. Foi a primeira e única vez que o povoado apareceu na Imprensa!

Para agradar o Yasi, é comum que as pessoas deem presentes ele, como aguardente e tabaco ou mel e ervas. Coloca-se tudo no oco de uma árvore, ou então, joga-se uma ou mais dessas coisas por cima do ombro esquerdo.

Uma das maneiras que se usam para tentar roubar-lhe o bastão é pegar uma mesa e colocá-la um pouco afastada de casa, cobri-la com uma toalha que chegue até o chão e, embaixo de tudo, depositar um pote de mel. Feito isso, é só esperar o Yasi tentar pegar o doce. É preciso, então, enfiar a mão por debaixo da toalha, agarrar o bastão e fugir sem ser visto. Tarefa difícil!”