A Dracena Draco
Hoje eu quero contar uma história um tanto fantástica, não apenas pelos fatos extraordinários, mas também porque ela mistura o lado imaginário com o real e verdadeiro. Muitas vezes é difícil separar a fantasia do que é autêntico, especialmente quando falamos de fatos acontecidos há muito tempo.
Vou tentar resumir tudo isto, que é uma fabula, e que envolve uma estranha planta conhecida como Dracena Draco.

Muito li sobre ela, e também ouvi coisas tão incríveis que às vezes penso: até que ponto esta árvore misteriosa esconde segredos que nunca serão revelados? Sabemos que o nome dracena deriva do vocábulo grego Dracaina, que denomina o dragão-fêmea, esse animal mitológico que é representado com cauda de serpente, garras e asas, tem também várias cabeças e uma pele grossa, praticamente impenetrável. A Dracena Draco também tem uma casca coriácea, muito espessa e na medida em que cresce vai multiplicando suas copas que parecem cabeças em forma de penachos, ou espanadores.
Uma lenda indiana muito antiga, fala de um combate entre um dragão basilisco, que eram os mais terríveis porque conseguiam matar apenas com um olhar que disparava línguas de fogo, e um elefante de presas enormes e curvadas para cima. O enfrentamento foi colossal, porque os dois animais eram enormes, mas o dragão aproveitando sua maior flexibilidade se enrolou no adversário cravando as fortes unhas de forma tal que era impossível qualquer tentativa de separação e, entre bramidos e urros, as duas bestas caíram num imenso charco de sangue e de barro. O dragão imobilizado por causa do enorme peso do inimigo já não conseguia nem respirar, quanto mais soltar labaredas de fogo. O elefante, coberto de profundas unhadas, agonizava desistindo de espetar com seus colmilhos o monstro de tantas cabeças. Assim os dois morreram e a terra parou de tremer e no mesmo instante o sangue de um, se misturou ao sangue de outro, formando cristais de cor púrpura que desapareceram nas profundezas da terra. Dias mais tarde, o solo que fora palco de tão encarniçada luta, já sereno, se abria para permitir a brotação de uma planta parecida com uma palmeira, mas que na realidade era uma dracena draco, surgindo já robusta, demonstrando que seu destino estava traçado: misturando força, magia e resistência.
Não se sabe em que época aconteceu tudo isto, os contadores de estórias, na Índia, não se importam muito com datas e períodos e os arqueólogos não coincidem nas suas estimativas, alguns calculam que a primeira Draco apareceu na terra há 400 milhões de anos, mas tudo isso é muito vago. O que é certo é que Alexandre Magno, o grande conquistador macedônio, comandou sua frota de 160 navios e 37.000 guerreiros, para tomar a Ilha de Socotora, só porque lá cresciam as lendárias Dracenas Draco, que prometiam para quem bebesse a sua seiva a eterna juventude.
Segundo a lenda, o filósofo Aristóteles, que também era macedonio como Alexandre, teria contado ao jovem general que em uma ilha frente ao continente africano e também próximo a Península Arábica, crescia uma árvore com poderes mágicos. Essa árvore soltava uma seiva que curava instantaneamente as feridas produzidas por armas brancas; Socotora ou Sugutra, como é conhecida pelos árabes, era uma terra distante, em linha reta eram quase 5.000 Km de andada e por mar, muito mais, além disso, os fenícios ocupavam a ilha que tinha valores estratégicos e econômicos muito grandes.
Mas Aristóteles tinha ensinado a Alexandre que “o que existe na alma humana, são os reflexos da natureza, que está em torno dos homens”; por tudo isto então valia a pena o sacrifício. E o maior conquistador de todos os tempos, lança um contingente formado por 37.000 guerreiros que embarcam em 160 navios com destino a Socotora. O plano era perfeito, tinha sido arquitetado por esse filósofo sábio de 50 anos e pelo seu discípulo, um vencedor nato de apenas 22 ou 23 anos idade.
Um enigmático personagem faz parte de toda esta narrativa. Nos livros nunca foi mencionado, mas Lykos estava lá, até nos momentos ultra-secretos em que Alexandre consultava os oráculos, que respondiam todas as dúvidas com conselhos infalíveis, de inspiração divina. Lykos estava junto a ele, como uma sombra, encarregado de manter iluminado o halo de glória, que pairava em cima do grande chefe. Esse oficial de confiança, pouco tempo depois de Alexandre ter vencido e expulso os fenícios do Socotora, o salva de uma ferida mortal produzida por uma espada. Lykos mistura gotas de Dracena Draco com uma babosa nativa, que os botânicos classificaram mais tarde como Aloe succotrina, e formula desta maneira uma poção mágica que devolve a vida a Alexandre, o Grande.
Este remédio mágico, segundo relatos de antigos alquimistas, foi responsável, em partes, pelas inúmeras conquistas desse célebre general, que teve uma vida curta, já que morreu com 33 anos. Curta, mas intensa, em todos os sentidos. O misterioso Lykos, ao contrário, viveu até os 122 anos. Não conseguiu a eterna juventude, nem a imortalidade do corpo, apesar das doses diárias de suco de Dracena Draco, mas ajudou a disseminar as sementes desta árvore pelas diversas regiões por onde andou.







