Finados
O cemitério é um símbolo e não apenas um depósito de corpos. Nele estão guardados nossa história, nossos genes.
É lá que, às vezes, vamos para ter um contato mais próximo, com aqueles que mostraram caminhos e dos quais gostaríamos que ainda nos dessem algum sinal. Procuramos, nesse verde vazio, o tremular das folhas de alguma árvore e, até quem sabe, o voo cadencioso do pássaro mensageiro, que nos ofereça a resposta esperada.
Esse espaço misterioso funciona como ponte, que une o tangível com o desconhecido. É lá onde nosso olhar parte da lápide e viaja, com os olhos, pelo tronco ascendente de um cipreste que nos conduz até uma nuvem, onde acreditamos encontrar o pálido rosto que alimenta nossa saudade.
No meio do silêncio, nos esforçamos para ouvir qualquer coisa que a brisa nos traga, por momentos é um som seco proveniente de um bambuzal, em outros, sutilmente, somos capazes de perceber o ruidinho que uma joaninha faz, quando escala o caule de uma palma.
Cada instante é aproveitado para decodificar símbolos, para entender a possível mensagem que nos espera, cifrada no jardim. Por isso a paisagem merece ser rica e não lúgubre, deve estar carregada de esperanças e não de tristezas. A melancolia nunca promete, apenas ancora a nossa vontade de sermos felizes.
Supomos, nestes dias, ir ao cemitério para reverenciar nossos mortos. Na realidade vamos com a intenção de manter aceso nosso vínculo. Estamos aí para avivar uma luz que recusamos ver extinta porque, de algum modo, estamos sujeitos a ela.
Somos absolutamente dependentes da memória que, reminiscentemente, nos mantêm ligados a aqueles que não estão, que deixaram de existir, mas, misticamente, estão aí guardados como enigmas, no meio de um jardim com flores.
Raul Cânovas nasceu em 1945. Argentino, paisagista, escritor, professor e palestrante. Com 50 anos de experiência no mercado de paisagismo, Cânovas é um profissional experiente e competente na arte de impactar, tocar, cativar e despertar sentimentos nos mais diversos públicos.
Lindas palavras, me fizeram compreender esse misterio
Obrigado pelo comentário, Carla. Fico contente sabendo que a crônica lhe foi benéfica.
Abraços
Lindo, Sr. Raul!! O senhor tem o dom da.escrita!! Amei o texto! Parabéns!!!
Querida Luciene, obrigado pelo carinho!!!
Abraços