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Paisagismo e Jardinagem

Paisagismo em Rio de Janeiro durante a época de João VI

Quando Dom João VI e sua comitiva chegaram ao Rio de Janeiro em 1808, encontraram uma cidade com jardins muito diferentes dos que conheciam na Europa. Naquela época, os jardins cariocas eram bastante simples e utilitários, refletindo as condições tropicais e o uso prático das plantas, sendo a maioria privados ou de conventos, instituições religiosas ou famílias abastadas. Alguns dos aspectos dos jardins no Rio de Janeiro dessa época eram dominados pela vegetação nativa, com muitas espécies de plantas tropicais, sendo umas poucas exóticas. Palmeiras, como a juçara (Euterpe edulis), o pindó (Syagrus romanzoffiana) e a palmeira-imperial (Roystonea oleracea), introduzida por Dom João VI em 1809 e árvores frutíferas, como laranjeiras, mangueiras, bananeiras, jaqueiras, goiabeiras e aceroleiras era m comuns. A flora nativa era exuberante, mas nem sempre organizada de forma estética. As plantas tinham um propósito prático, fornecendo frutas, legumes e ervas medicinais para as famílias. Ao contrário dos jardins europeus, que eram cuidadosamente planejados e estruturados, os jardins no Rio de Janeiro eram menos formais e organizados. A disposição das plantas seguia mais a necessidade de cultivo do que um desenho paisagístico. As práticas de jardinagem também eram influenciadas pelas tradições africanas e indígenas, que incorporavam plantas medicinais e técnicas agrícolas tradicionais.

Praça da República (Rio de Janeiro) | Foto de Rodrigo Soldon from Rio de Janeiro, Brazil, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

Inspirado no Passeio Público de Lisboa, inaugurado na década de 1760, e na construção dos jardins do Palácio de Queluz, cuja primeira etapa estaria concluída em 1786, o Vice-Rei do Estado do Brasil, Luís de Vasconcelos e Sousa, entre 1779 e 1783, incumbe o Mestre Valentim o planejamento do Passeio Público do Rio de Janeiro, transformando o lugar em um dos primeiros ensaios paisagísticos.

Jardim Botânico do Rio de Janeiro | Foto de Jimmy Baikovicius from Montevideo, Uruguay, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

A chegada de Dom João VI trouxe uma mudança significativa. Com ele vieram também botânicos, paisagistas e jardineiros europeus, como von Martius, von Spix, Saint-Hilaire, von Langsdorff  e um pouco antes Alexandre Rodrigues Ferreira, um dos primeiros naturalistas a explorar sistematicamente o interior do Brasil entre 1783 e 1792. Eles introduziram novas ideias e técnicas de jardinagem. Dom João VI, apaixonado por plantas e jardinagem, impulsionou a criação de jardins mais elaborados e com uma abordagem científica.

Quinta da Boa Vista | Foto de Augusto Malta , Public domain, via Wikimedia Commons

A Quinta da Boa Vista era a residência oficial da família real portuguesa após a chegada ao Brasil em 1808. O parque ao redor do palácio, que hoje abriga o Museu Nacional, foi um dos mais importantes jardins do período. O paisagismo idealizado mais tarde pelo paisagista francês Auguste François-Marie Glaziou em 1872, foi influenciado pelo estilo inglês, com lagos, grutas artificiais e uma grande diversidade de plantas exóticas. Também, localizada em Santa Teresa, a Casa de Palha era a residência de verão de Dom João VI. O jardim era conhecido por suas plantas tropicais, incluindo bananeiras, palmeiras e árvores frutíferas.

Um dos marcos dessa transformação foi a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro em 1808, inicialmente chamado de “Horto Real”, um dos primeiros jardins botânicos do hemisfério sul, que foi aberto ao público em 1822, tornando-se um espaço de lazer e estudo para a população do Rio de Janeiro e visitantes. Esse jardim foi estabelecido com o intuito de aclimatar plantas exóticas, especialmente noz-moscada, canela e pimenta-do-reino e servir como um centro de pesquisa botânica. Com isso, o Rio de Janeiro começou a desenvolver jardins mais sofisticados, com uma mistura de plantas nativas e exóticas, dispostos de forma mais ordenada e estética, refletindo as tendências europeias da época.

Portanto, a chegada de Dom João VI marcou o início de uma nova era para os jardins no Rio de Janeiro, que passaram de espaços utilitários e simples para jardins mais complexos e ornamentais, contribuindo significativamente para a botânica e a paisagem urbana da cidade.

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