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Paisagismo e Jardinagem

Portugal, Florestas, Técnicos Florestais e José Bonifácio de Andrada e Silva

Em tempos remotos, Portugal era literalmente coberto por florestas. A árvore mais numerosa era o carvalho (Quercus) e, certamente, o crescer da população e de suas necessidades muito contribuíram para que restem apenas poucos vestígios dessa vegetação original.

Mas não foi só a instalação das culturas agrícolas e dos pastos a dizimar a floresta. A navegação marítima agravou a situação, pois a construção de naus e caravelas exigia material lenhoso.

José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 – 1838)

Os monarcas portugueses, desde cedo, tomaram consciência do problema e começaram a tomar medidas para proteger as florestas. Ao Rei D. Diniz é atribuído o mérito de ter criado o Pinhal de Leiria, composto de pinheiro-manso nativo e pinheiro-bravo, originário da França.

Importantes medidas de proteção das florestas foram tomadas pelos soberanos da 1ª Dinastia, como a criação do cargo de Monteiro-Mor, cuja função era cuidar dos “Montes”. Essa concepção deu origem a uma nova profissão, que mais tarde se transformou em Engenheiro Silvicultor, e depois, em Engenheiro Florestal.

Os problemas relativos ao replantio de árvores e organização das defesas contra fogo e roubo de madeira, eram responsabilidades do Monteiro-mor e à ele cabia, também, cuidar das Coutadas Reais (terras pertencentes à Coroa), para que não faltasse fauna para as caçadas da Corte e dos nobres. Mas tudo isso não foi suficiente.

No reinado de D. João V, o desmatamento foi o maior de todos os tempos. Apesar da importação de material lenhoso do Brasil, as culturas de cereais e as vinhas se expandiam, o consumo de lenha para fabricar o carvão necessário na indústria também, e eram cada vez mais frequentes os incêndios propositais, para criar pastagem.

No reinado seguinte, e graças ao Marquês de Pombal, foi que se tomaram medidas para tentar inverter uma situação que estava se tornando calamitosa. Em 1751, a Marinha (diretamente afetada pela falta de madeira) criou os cargos de Guarda-mor e Superintendente, para que cuidassem, especificamente, da gestão dos recursos florestais e do reflorestamento. Os Monteiros-mor passam a cuidar exclusivamente das Coutadas Reais.

Esses “oficiais” da floresta, porém, cometeram abusos de poder e erros graves de gestão, pois eram políticos e não técnicos, e no reinado de D. Maria I, deu-se fim (1783) ao cargo de Guarda-mor, deu-se a continuidade, somente, ao de Superintendente. Pouca coisa mudou, e então, em 1791, todos os cargos foram extintos, passou-se a responsabilidade de criar nova organização e cargos, ao Juiz Conservador dos Pinhais.

Foi assim que José Bonifácio de Andrada e Silva apareceu nesta história. Nascido no Brasil, formou-se em Direito e em Filosofia, em Coimbra, e conquistou o cargo de Intendente Geral de Minas e Metais. Pelos conhecimentos adquiridos durante os anos em que estudou História Natural, era também Técnico Florestal, e por isso, iria trabalhar com e para florestas.

Em 1803, é nomeado Administrador das Ferrarias, cargo que compreende tarefas referentes à silvicultura. Cria-se o cargo de Guarda-mor dos Bosques e Matos e, assim, Andrada e Silva ocupa-o, e, finalmente, dá-se o início à administração técnica de florestas, bosques e afins.

Sob sua orientação, surgem os primeiros trabalhos de fixação de dunas, com a implantação de pinhais de proteção ao longo do litoral, que tinham por objetivo impedir o avanço da areia sobre as terras agrícolas.

A publicação do primeiro livro em português sobre silvicultura é desta época, e seu autor não poderia ser outro: J. B. de Andrada e Silva! Intitulado “Memória sobre a necessidade e utilidade de plantio de novos bosques em Portugal”, ele descreve a floresta destroçada e em retrocesso. Segundo esse texto, somente 10% do território Lusitano era arborizado (o mesmo acontecia na França). O alerta para a situação das florestas está lançado. Outros autores e especialistas vão se interessar pelo assunto daí por diante.

A essa altura, as Coutadas Reais já não existiam e, com elas, terminaram, também, os cargos de Monteiro-mor e subordinados.

Em 1819, Andrada e Silva regressa ao Brasil, onde abraça sua brilhante carreira política.

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