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Paisagismo e Jardinagem

Desastre e recuperação

Em 1987, uma grande tempestade atingiu o sul da Inglaterra: causou a morte de 18 pessoas e a destruição de milhões de árvores que, ao cair, bloquearam estradas e vias férreas, causaram enormes danos a construções, veículos, redes elétricas e linhas telefônicas. O mesmo fenômeno atingiu a Bretanha e a Normandia, na França: 15 foram as vítimas fatais e ¼ de seus bosques foram destruídos.

Imagem da destruição de 1987 em Emmetts Garden

Imagem da destruição de 1987 em Emmetts Garden

Estima-se que 15 milhões de árvores foram perdidas (10 milhões de coníferas, 3,25 milhões de carvalhos e 1,75 milhões de faias) e os vegetais que cresciam na sobra dessas árvores, ficaram, então, expostos ao sol e aos ventos… Acres e mais acres de velhas árvores e espécimes raros não existiam mais, algumas centenárias propriedades e seus históricos jardins mudaram de aspecto para sempre.

Mike Calnan, diretor chefe da Divisão de Parques e Jardins do National Trust, foi quem documentou, ao fotografar de um helicóptero, a hecatombe, que dizimou cerca de 350 mil árvores em 30 das propriedades administradas pela organização.

“Em propriedades de Slindon, perto de Arundel, em Hampshire, grandes áreas de floresta foram arrasadas”, conta Calnan. Petworth, em West Sussex, também foi fortemente atingida. Onde havia um bosque, criado por Capabilty Brown, no século XIII, as árvores jaziam tombadas e tudo que se via eram raízes. Em Emmetts Gardens, a visão era aterradora. Vimos também 200 acres dos pinheirais da Toys Hill achatados, como se uma grande plaina tivesse passado por ali.

Trabalhadores levantamento dos prejuízos após as tempestades de 1987

Trabalhadores levantamento dos prejuízos após as tempestades de 1987

Convocaram-se os especialistas em poda, silvicultores e jardineiros de todo o país para ajudar na limpeza e, assim, na primavera seguinte, o público poder a visitar em segurança todas as propriedades do Trust. As doações atingiram os £ 2 milhões (dois milhões de libras), cerca de R$ 6.520.000, e um programa emergencial de propagação de espécies foi iniciado.

Se a tempestade tivesse ocorrido algumas semanas depois, o desastre teria sido bem menor. Aquele foi um outono de temperaturas altas para a época e mais chuvoso que de costume: portanto, as árvores ainda conservavam todas as folhas, o que ofereceu maior resistência aos ventos, no entanto, suas raízes, por causa do solo encharcado, estavam fragilizadas.

A natureza regenera o bosque perdido, pois árvores tombadas nem sempre estão mortas e das raízes que ainda restam no solo, um novo indivíduo pode brotar. As árvores menores e jovens não danificadas são benefícios pelo aumento da claridade e crescem mais rapidamente. Mas, infelizmente, a natureza não pode restaurar por conta própria os projetos ornamentais, como a arborização de uma avenida ou o paisagismo de um planejado.

Em Sheffield Park, por exemplo, além das árvores, todo o sistema de drenagem foi danificado e teve que ser refeito antes do plantio de quatro mil novas árvores e arbustos, incluindo aceres, rododendros, azáleas e 150 carvalhos.

“Mantivemos o plano paisagístico criado há 300 anos. Por causa das árvores mais jovens, o jardim está mais vibrante agora”, diz Andy Jesson, o jardineiro chefe. Uma consequência positiva do desastre foi o aumento de estudos sobre o efeito que a madeira tombada tem no ecossistema de uma floresta.

O ecologista Ralph Harmer, que trabalha no Forest Research, foi um dos que estudaram os efeitos da tempestade. “Os danos causados pelos ventos, apesar de naturais, têm importantes consequências na ecologia dos bosques e das florestas”, explica. Eles podem:

  1. Criar brechas, que permitem a regeneração de arbustos e árvores;
  2. Produzir espaços arejados, mais ensolarados e mais quentes, que favorecem a floração e o aparecimento de borboletas e outros insetos polinizadores;
  3. Favorecer o crescimento de um habitat arbustivo benéfico para os pássaros e pequenos mamíferos;
  4. Aumentar a quantidade da madeira morta, que beneficia, seja a flora, seja a fauna, que dela dependem.

É um circulo vicioso: muitos insetos se alimentam da madeira em decomposição e, com isso, os pássaros e outros animais que se alimentam de insetos são beneficiados. Outros habitantes dos bosques encontram morada e abrigo sob os troncos caídos; cogumelos aparecem em abundancia, a flora rasteira aumenta e assim, a vida fervilha e se renova.

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