Parque Micaela Bastidas

Todas as ruas do bairro Puerto Madero levam o nome de alguma mulher latino-americana. São pioneiras, corajosas, lutadoras. Como Cecilia Grierson (1859-1934), a primeira médica da América do Sul. Ou Carolina (Carola) Lorenzini (1899-1941), a primeira a cruzar voando o Rio da Prata (logo se especializou em acrobacias).

Nele há dois grandes parques: Micaela Bastidas e Mulheres Argentinas. Cada um tem um estilo próprio, moderno e de linhas geométricas. Ocupam espaços de mesmas dimensões (50 mil metros quadrados) e são quase simétricos, espelhados no centro do bairro.

Seguindo o padrão, o nome do primeiro parque a ser implantado foi dado em homenagem a uma mulher: Micaela Bastidas, por Micaela Bastidas Puyucahua (1744-1781), uma valente precursora da independência latino-americana que se tornou lenda e símbolo da luta contra a opressão e a exploração colonial. Foi resultado de um concurso nacional realizado em 1996 que incluiu a recuperação do calçadão costeiro (“Costanera”) e dos bulevares de Porto Madeiro, obras existentes.

Foto da construção do Parque Micaela Bastidas

O Parque Micaela Bastidas, inaugurado em 2003, tem uma topografia interessante. Em um lugar plano construíram três colinas de 5 metros de altura cada, contidas por enormes muros de pedras contidas em malhas de ferro. Essas colinas representam as “barrancas”, formação natural da costa do Rio da Prata que caracteriza as praças mais antigas de Buenos Aires, quando o bicho homem anda não tinha decidido aterrar a costa para aumentar a cidade. Assim, sua enorme área fica interessante, convidativa (o que será que tem lá em cima?) e dividida em parte baixa e alta. A baixa, subdividida em três áreas menores destinadas a distintos usos recreativos. A alta, mais arborizada, um passeio de norte a sul pelo parque.

Na parte baixa, a conveniente orientação das colinas faz um desses espaços ser ideal para os amantes do sol. Está orientada para aproveitar ao máximo os raios do astro rei e, como não podia deixar de ser, leva o nome de Praça do Sol. Seu desenho é simples, linhas de muros de pedra imersos num gramado bem cuidado e convidativo. Aqui é permitido pisar na grama! Mas, se preferir, pode usar um dos enormes bancos de madeira de 2x2m.

No centro, a ‘Plaza del Huerto’, que ambiciona ser o novo parque de rosas da cidade (há um, o Rosedal, nos Bosques de Palermo). Foram plantados mais de 3.800 rosais de 28 espécies nos cinco canteiros desse espaço, para que cada um seja de uma cor.

A terceira praça da parte baixa está dedicada às crianças. Na Praça das Crianças há brinquedos de madeira com desenhos inovadores.

Temos ainda a parte alta do parque, acessível por três rampas e escadarias que conduzem a um grande passeio longitudinal que recorre o parque de norte a sul. O Caminho do Alto foi acompanhado de setenta Tílias (Tilia x moltkei).

As rampas e caminhos que atravessam o parque oferecem muitas alternativas para recorrer seus espaços. O mobiliário é moderno e simples, bem de acordo com o desenho do parque. Bancos de madeira e de concreto, em diversos modelos com e sem encosto abundam tanto quando os reluzentes cestos de lixo e as luminárias, fiéis sentinelas. Há estacionamento para bicicletas e bebedouros, inclusive para os melhores amigos do homem.

Se cansar de tanto andar, descanse tomando uns mates nos convidativos bancos dispostos em círculos.

Além de rosas muitas outras espécies foram plantadas. Os tipos de árvores foram usados para diferenciar os espaços. O setor infantil, por exemplo, está bordeado por densas e perenes coníferas (Cupressus leylandii), ótimas barreiras visuais, sonoras e de ventos.

Foram plantados 40.000 árvores e arbustos de cerca de 150 espécies. Essa grande massa verde cria alguns espaços com mais privacidade, como pequenas salas de estar entre os álamos prateados. A maioria das árvores possui importante florada. Dessa forma, mesmo que o uso desgaste os jardins, o parque permanecerá florido. Usaram muitas espécies nativas do país, como jacarandás (Jacaranda mimosifolia), eritrinas (Erythrina crista-galli), paineiras (Chorisia speciosa ou Ceiba speciosa e C. chodatii), patas de vaca (Bahuinia forficata, ex-candicans), ipês (Tabebuia avellanedae), Tipuanas (Tipuana tipu), timbós (Enterolobium contortisiliquum) e canafístulas (Peltophorum dubium). Entre os arbustos, belíssimas piracantas (Pyracantha coccinea), lavandas (Lavandula dentata) e os rosais.

• Para saber mais sobre o bairro, leia aqui no Jardim Cor o post Puerto Madero.
• Mapa de Puerto Madero
• Puerto Madero e seus parques no Google Maps

Elena Soboleff

Argentino-brasileira, nasceu em Buenos Aires e logo morou 30 anos em São Paulo, antes de retornar à sua cidade natal onde continuou adquirindo experiência no desenho e execução de jardins. Gosta muito de usar as plantas nativas da região em seus trabalhos e colabora com uma Ong que as cultiva. Está tão fascinada pela terra que também a usa para modelar peças de cerâmica, geralmente pensando em seu uso no jardim.