Praça Vicente López y Planes
O bom de morar onde moro e de trabalhar com o que trabalho é que quando a inspiração resolveu sair para dar uma volta posso pegar a bicicleta e, durante um agradável passeio, sair ao seu encontro. Passei por muitas ruas arborizadas e quis passar pela praça onde minha avó me levava quando ainda morávamos aqui. E fiquei pensando que aqui há mais verde que em São Paulo e que mesmo quem tem jardim usa muito os espaços verdes públicos.
Fiquei muito espantada ao estudar um pouco os números. A OMS recomenda que existam, no mínimo, entre 10m2 e 15m2 de áreas verdes por habitante, distribuídos equitativamente em relação à densidade populacional. Aconselham, ainda, que essa relação chegue a valores entre 15 e 20m2de zona verde útil por habitante.
Descobri que a realidade de Buenos Aires está bastante longe disso. E, para meu espanto, São Paulo tem um índice melhor que o de Buenos Aires! Achei que seria o contrario…
A Praça Vicente López e Planes, em Olivos, foi um dos espaços que mais frequentei quando ainda morávamos aqui. Este bairro e outros ainda mais distantes do centro surgiram como bairros de fim de semana, com grandes sítios – as “quintas” que chegavam até o rio. Tinham um centro com igreja, comércio e praça, que nascia com um formato padrão da época: desenho inspirado nas praças francesas e europeias, clássicas, com desenho geométrico e plantas podadas e controladas, onde se localizam a igreja, o mercadinho, a prefeitura e a biblioteca municipal (que estranhamente nesse caso estão a alguns quarteirões de distancia da praça).
Ela, quadrada, possui um caminho perimetral, duas diagonais com a estátua no centro e áreas de estar nos espaços gerados por essas linhas.
Esses caminhos estão bordeados por árvores. Em três laterais dominam os Plátanos (Platanus acerifola), exemplares altos com troncos em tons de marrom e cinza e folhas caducas com lindo desenho. Já na calçada em frente à igreja devem ter se confundido e puseram Tipuanas (Tipuana tipu), que deixam essa calçada mais escura e sóbria.
O público que usa essa praça é bem amplo. Em um espaço com bancos ao redor da infalível fonte se juntam os aposentados. Em outro canto, crianças jogam bola. Há uma pérgola com uma bela primavera que começa a florescer. Muitas palmeiras Phoenix canariensis gigantescas cujos estípites esburacados acusam a presença de uma grande população desenfreada de periquitos são parte do verde, compartido com cedros, pinheiros, muitos pitósporos (Pittosporum tobira) com sua forma naturalmente arredondada compondo canteiros e bordeando caminhos.
Aqui, uma exceção. Hoje a maioria das praças e parques públicos têm grades. Esta ainda se salva. Aqui as grades, baixas, delimitam unicamente o espaço de jogos infantis para que a criançada não saia em disparada para a rua ou para longe dos pais. O plástico também está presente, símbolo de nossos tempos. Mas a gangorra e o passa mãos ainda estão onde eu os havia deixado. Bem como o carrossel. Acredito até que parte deles ainda seja original da minha época.
Em frente, a Igreja ‘Jesús en el Huerto de los Olivos’ está vestida pela falsa-vinha (Parthenocissus tricuspidata). O revestimento ondulante ao vento é lindo em todas as épocas do ano, do verde claro da primavera aos vermelhos acolhedores do outono. No inverno mostra sua estrutura nua, dando um ar triste a essas paredes tão altas.
Os benefícios produzidos numa cidade com muitas áreas verdes são muitos e vão além dos relacionados ao bem estar físico. São uma forma de diminuir os efeitos da poluição e reduzem o CO2. Os espaços verdes nos ajudam a que saibamos onde estamos, a nos localizar em um mapa, são referencias importantes tanto para seus moradores como para visitantes. Formam corredores ecológicos que dão guarida e alimento à fauna local. Retêm o pó e são excelente barreira sonora. Possuem pisos absorventes e ajudam a controlar e a diminuir as enchentes. Podem abrigar hortas comunitárias, centros de atividades para aposentados, restaurantes, áreas para a prática de esportes, palcos e as tentadoras feiras de artesãos, que nesse caso acontece todos os fins de semana e feriados.
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Argentino-brasileira, nasceu em Buenos Aires e logo morou 30 anos em São Paulo, antes de retornar à sua cidade natal onde continuou adquirindo experiência no desenho e execução de jardins. Gosta muito de usar as plantas nativas da região em seus trabalhos e colabora com uma Ong que as cultiva. Está tão fascinada pela terra que também a usa para modelar peças de cerâmica, geralmente pensando em seu uso no jardim.
Elena querida! Estou virando sua fã aqui no blog…rs Que belo texto! Beijo enorme!!!
Obrigada Alice
Espero continuar por muito tempo e sempre superando expectativas. Beijos!