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Paisagismo e Jardinagem

Aniversário de Roberto Burle Marx

Há 106 anos nascia um homem impar. Mas antes de prosseguir esta crônica, preciso advertir que a escrevo para os jovens, portanto, se você é da minha geração, e até se em algum momento do passado cruzou os passos com os do aniversariante, não é necessário que continue lendo. Faça isto, apenas se tiver a vontade de sentir dentro de si, a emoção de saber que um brasileiro foi o maior do mundo, em algo que fazia com alegria cativando por onde passava. Roberto Burle Marx – ou apenas Roberto, como eu o chamava desde a década de 1960 quando o conheci – fez do paisagismo uma arte para interpretar o Brasil e mostrá-lo ao mundo. Refinou cores, inovou formas, homenageou nossa flora. Diferentemente do italiano Vignola (1507 – 1573), que trabalhou com Michelangelo nos jardins da Villa Farnese, de André Le Nôtre (1613 – 1700) criador dos jardins do Palácio de Versalhes, e de Capabilty Brown (1716 – 1783) considerado o pai do paisagismo inglês, Roberto procurou nas raízes de sua cultura a inspiração necessária, para criar jardins que espelhassem nossa mata e a maneira brasílica de usá-los. Sem rebuscamentos, distanciou-se dos austeros neoclássicos, buscando na arquitetura pós-moderna elementos populares que valorizassem a cultura, o folclore e a memória de seu povo. Nunca pensou em confinar seu trabalho em mansões, embora tenha projetado jardins particulares preferia integrá-lo à genuína paisagem, assim foi com a Praça do Forte em Recife, quando com 25 anos desenhou seu primeiro jardim público, criando em seguida a Praça Euclides da Cunha na mesma cidade, com espécies típicas da caatinga, e em 1937 o Parque Ecológico de Recife.

Sitio de Roberto Burle Marx – Guaratiba – RJ

Projetou o Parque del Este em Caracas, os jardins da Cidade Universitária no Rio de Janeiro, o Complexo da Pampulha em Belo Horizonte, as áreas verdes do Eixo Monumental de Brasília, o Aterro do Flamengo e muitos outros de caráter emblemáticos, como o terraço-jardim do Edifício Gustavo Capanema, e o projeto do jardim para o terraço do Banco Safra, ou o calçadão de Copacabana.

Guaratiba, tela de R. Burle Marx – 1989

Sempre inquieto. Pintou, desenhou jóias e foi também tapeceiro, escultor, ceramista, incursionado inclusive na arte lírica quando cantava Schubert.

Biscayne Boulevard, Miami. Projeto de Burle Marx de 1988, concluído em 2004

Minha intenção não é a da homenagem corriqueira feita nestas ocasiões, isto é pouco. Vinte e um anos depois da morte dele, temo que seja lembrado como apenas alguém que foi um grande paisagista. Gostaria que você, jovem desenhador de jardins, se inspirasse nas ideias deste mestre, não basta copiar o jeito dele. O importante é entender o processo criativo de Roberto, que levava em conta as questões sócio-políticas, buscando sempre um ângulo que retratasse o comportamento da mulher e do homem brasileiro, que quando passeando em um parque público ou mesmo em um espaço ajardinado qualquer, deveriam sentir as delícias de desfrutar de um clima benévolo, no meio de uma paisagem genuína, onde a essência se manteve pura e livre das influências globais, que tanto interferem no nosso paisagismo.

Parabéns pelo seu aniversário Roberto Burle Marx! Você não deixou de existir, você não morreu. Continua nos ensinando. Cabe a nós entender as lições deixadas por você.

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3 Comments

  1. Olá,sou assessora de imprensa e estou divulgando a exposição que comemora os 50 anos do Parque do Flamengo que será inaugurada dia 30 de setembro, nos Correios do Rio.
    Gostaria de contar com vocês na divulgação.
    abraços, Eli Rocha

    JARDIM DE MEMÓRIAS – PARQUE DO FLAMENGO 50 ANOS
    Exposição comemorativa dos 50 anos do Parque do Flamengo

    Centro Cultural Correios Rio
    Abertura 30 de setembro de 2015, 19h
    Visitação até o dia 29 de novembro de 2015
    Entrada franca

    O Centro Cultural Correios Rio abre dia 30 de setembro, às 19h, a exposição Jardim de Memórias – Parque do Flamengo 50 anos, que comemora o cinquentenário de sua inauguração, resultado da monumental obra de Affonso Eduardo Reidy, Lota de Macedo Soares e Roberto Burle Marx. Segundo a curadora Margareth da Silva Pereira, “A exposição se compõe de quase uma centena de reproduções fotográficas realizadas durante a construção e contemporâneas, desenhos de Burle Marx, plantas de arquitetura, além de vídeos, celebrando os 50 anos do Aterro e do Parque do Flamengo e aqueles que não só o conceberam, mas souberam guardar viva a ideia desse imenso jardim de todos os cariocas”.

    Inaugurado em 1965, no IV Centenário da Fundação da Cidade do Rio de Janeiro, hoje, portanto, festejando seus 50 anos, o Parque do Flamengo – também chamado simplesmente de Aterro – não é uma obra qualquer. Incrustado no coração da metrópole carioca, ele é seu espelho, sua alma, e a memória mais potente daquilo que poderíamos chamar de “a aventura americana”, algo que o próprio Rio de Janeiro sintetiza e ao mesmo tempo desafia.

    Em seus mais de 7 km de extensão, os limites entre cidade e natureza ou entre projeto e história se fundem, balizados pelo Pão de Açúcar e pelo Corcovado. Diante da grandiosidade e da harmonia do sítio geográfico da Baía da Guanabara, o Parque do Flamengo atualiza e articula as diferentes respostas – arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas que, desde o século XVIII, vêm sendo dadas ao desafio de construir e viver em uma cidade às portas de um paraíso, palavra que, como se sabe, originalmente designava um jardim.

    A exposição Jardim de Memórias – Parque do Flamengo 50 anos enfoca esses sucessivos gestos de construção de jardins e parques na frente marítima do próprio “jardim” que é a Baía de Guanabara. A história dessa área e dos seus projetos urbanísticos e paisagísticos, até culminar no Aterro e Parque do Flamengo, realizado por Affonso Eduardo Reidy, Lota de Macedo Soares e Roberto Burle Marx, se confunde com a dos 450 anos da cidade e vem sendo lida como um dos mais belos presentes que o Rio de Janeiro deu a si próprio, graças à inteligência técnica, política, administrativa e estética de seus criadores. Diante das constantes ameaças a que o Parque do Flamengo é exposto, é importante, para melhor preservá-lo, conhecer a sabedoria e o esforço implícitos nesses gestos construtivos que se sucederam através do tempo.

    Margareth da Silva Pereira, curadora
    Arquiteta, urbanista, doutora em História pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Vem realizando conferências em diversas instituições de ensino superior no Brasil e no exterior. É autora de livros, capítulos de livros, artigos e exposições nas áreas dos estudos culturais, principalmente nos campos da arte, da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo, tendo como foco, sobretudo, o Rio de Janeiro. Vem se dedicando também a análise dos discursos historiográficos (sobre e no) campo brasileiro nestas áreas.

    Serviço
    Centro Cultural Correios Rio
    Jardim de Memórias – Parque do Flamengo 50 anos
    Exposição comemorativa dos 50 anos do Parque do Flamengo – com uma centena de reproduções fotográficas, desenhos de Burle Marx, plantas de arquitetura, vídeos, etc.
    Abertura 30 de setembro de 2015 às 19h
    Visitação até o dia 29 de novembro de 2015
    Rua Visconde de Itaboraí, 20 (Corredor Cultural/Centro)
    Telefone: 21 2253-1580
    Visitação: das 12h às 19h
    Entrada Franca
    Livre
    Metro: Uruguaiana

    Eli Rocha elirocha246@gmail.com
    Assessoria de Imprensa da exposição
    55- (21) 2547 4953 – 2255 2327 – 99179 4763

    Maria José Cardoso
    Divulgação Institucional
    Centro Cultural Correios/RJ
    mariajosec@correios.com.br
    (21)2219-5323

    • Boa noite Eli,

      Com prazer ajudaremos na divulgação desse evento. Envie-nos algum material ilustrativo para veicular nas nossas redes sociais.

      Abraços

  2. Burle Marx realmente deixou lições. Lições que nos propiciam desenhar a paisagem, como você disse Raul, com “D” maiúsculo !!

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