Aprender com as árvores
Olhe na sua volta, preste atenção! Elas ensinam a desvendar os mistérios da vida.
Nem sempre as árvores acompanham nossas expectativas. Quando se trata do crescimento delas é comum a nossa impaciência de ver a muda já formada, dando sombra, flores e, quem sabe, aquela fruta saborosa, por que não? Queremos, porque queremos, que ela alcance o tamanho definitivo logo e a nossa paciência acaba bem antes do desenvolvimento final dessa árvore.
É certo de que existem algumas essências nativas que progridem com bastante rapidez, como o guapuruvú, a embaúba, o capixingui, o monjoleiro e muitas outras que enriquecem as paisagens de nossas matas e de nossos campos. No entanto, notem que são os paus-brasil, as castanheiras, as imbuias e as castanhas-do-pará as que fornecem as melhores madeiras e os frutos mais nobres. Estas últimas são longevas e respeitadas pelas outras árvores, na floresta, que se sentem protegidas e estimuladas a reproduzir suas virtudes.
Isso, talvez, seja a sutil indicação de que, para conseguir o melhor, precisamos controlar nossas ansiedades e aflições. Sermos pacientes na construção do futuro, vivenciando cada instante. Igual a uma árvore majestosa, que se alimenta das experiências que a vida lhe oferece, sem importar se com as tormentas ou vendavais, mas com as sucessivas tentativas de aprimorar a essência que a vivifica.
Nestes milhares de anos a raça humana tem andado muito e muito tem experimentado sofrendo e suportando provas. Essas tentativas de crescimento tiveram sempre por perto e como inspiração o que os animais faziam para sobreviver. Do mesmo modo que as mulheres e os homens copiavam os costumes olhando os bandos e as manadas de bichos, inconscientemente ouviam as sugestões mudas do arvoredo. Nos bosques podiam assistir a luta das pequenas árvores para alcançar a luz do sol, ou a competição para atrair um pássaro, que garantiria a perpetuação da espécie, polinizando as flores. Descobriam dessa forma, que só as firmes e esforçadas continuavam a existir, não por causa da força física, mas pela energia de caráter.
Apenas não consigo entender, ainda, como algumas plantas controlando o próprio sofrimento, se escondem da vida dentro dos bulbos, esperando um momento propício para reviver.
Raul Cânovas nasceu em 1945. Argentino, paisagista, escritor, professor e palestrante. Com 50 anos de experiência no mercado de paisagismo, Cânovas é um profissional experiente e competente na arte de impactar, tocar, cativar e despertar sentimentos nos mais diversos públicos.
Linda informação e com grande sensibilidade
Obrigado Iara!